Dialectos
Nem sei como começar. “Os inícios” sempre foram uma das minhas grandes
dificuldades, raramente sei quais são as palavras certas para começar um texto e
isso, mais que o tempo ou a vontade de escrever, foi o que determinou que este
espaço de opinião ficasse apenas com o título e duas linhas de texto por uma
larga temporada.
Contudo, hoje tenho um bom motivo para começar, um facto que tenho
constatado no meu quotidiano: a vergonha e, até desprezo, de “falar à
madeirense”. Por que rejeitar os dialectos madeirenses? Uma herança tão rica em
palavras e expressões que herdamos dos antepassados e que nos tornam únicos? E
então, alargo os horizontes até chegar aos nossos compatriotas açorianos, conhecidos
pelo seu sotaque “cerrado”. Será que também renegam as variedades linguísticas próprias
da sua cultura? E ainda acrescento mais um ponto a ser discutido, será que em
ambos arquipélagos sentem-se, por vezes, inferiorizados pelos continentais
devido ao sotaque?
Vamos esclarecer desde já, da perspectiva linguística, não existe
quaisquer razões para inferiorizar este ou aquele dialecto, afirmando que um é
errado ou outro é melhor. É preciso viajar até os primórdios da língua e
perceber que a língua-padrão, a modalidade linguística de Lisboa-Coimbra que
contém a Norma da língua portuguesa (conjunto de regras e prescrições para o
suo adequado da língua), não é mais que um dialecto do falecido latim que
alcançou o prestígio de ser considerada língua devido a motivos históricos,
culturais e sociais.
Os dialectos, sejam eles madeirenses, açorianos ou outros, podem ser
vistos, em vez de “errados”, como uma evolução da língua por um lado, já que
contém termos próprios e sistemas complexos que se desenvolveram à margem, mas
que podem vir a ser adoptados pela língua-padrão ou um meio de preservação do
idioma, pois contém características arcaicas.
Apesar deste texto visar valorizar os dialectos portugueses, quero ressaltar
que o seu uso deve ser limitado em certas situações. Um desses casos é na escrita,
pois os dialectos, regra geral, não têm ortografia própria, por isso não faz
sentido um madeirense escrever, “râua”
[ra´wa] em vez de “rua”. Se estamos inseridos em um lugar de ensino, a aprender
a língua-padrão também não convém o uso da variedade regional. Agora, se
estamos num convívio entre amigos, por exemplo, não há mal algum em exprimir-se
na variedade com o qual se cresceu e faz parte da nossa vida.
É com alegria que tenho visto algumas mudanças em relação à valorização
da variedade madeirense, é o caso do atelier de design,
publicidade e comunicação Gonna –
Creative Studio que apresentam produtos com expressões e vocabulário
madeirense, como ilustra a imagem inferior:
Este texto convida aos leitores do Tuga Space a exprimirem a sua opinião em
relação aos dialectos da sua região e a divulgar as suas expressões ou palavras
favoritas, deixo a minha contribuição, por isso fui “demitada” escrever hoje!
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