terça-feira, 8 de setembro de 2015

Terça-feira De Opinião


Dialectos 


Nem sei como começar. “Os inícios” sempre foram uma das minhas grandes dificuldades, raramente sei quais são as palavras certas para começar um texto e isso, mais que o tempo ou a vontade de escrever, foi o que determinou que este espaço de opinião ficasse apenas com o título e duas linhas de texto por uma larga temporada.

Contudo, hoje tenho um bom motivo para começar, um facto que tenho constatado no meu quotidiano: a vergonha e, até desprezo, de “falar à madeirense”. Por que rejeitar os dialectos madeirenses? Uma herança tão rica em palavras e expressões que herdamos dos antepassados e que nos tornam únicos? E então, alargo os horizontes até chegar aos nossos compatriotas açorianos, conhecidos pelo seu sotaque “cerrado”. Será que também renegam as variedades linguísticas próprias da sua cultura? E ainda acrescento mais um ponto a ser discutido, será que em ambos arquipélagos sentem-se, por vezes, inferiorizados pelos continentais devido ao sotaque? 

Vamos esclarecer desde já, da perspectiva linguística, não existe quaisquer razões para inferiorizar este ou aquele dialecto, afirmando que um é errado ou outro é melhor. É preciso viajar até os primórdios da língua e perceber que a língua-padrão, a modalidade linguística de Lisboa-Coimbra que contém a Norma da língua portuguesa (conjunto de regras e prescrições para o suo adequado da língua), não é mais que um dialecto do falecido latim que alcançou o prestígio de ser considerada língua devido a motivos históricos, culturais e sociais.

Os dialectos, sejam eles madeirenses, açorianos ou outros, podem ser vistos, em vez de “errados”, como uma evolução da língua por um lado, já que contém termos próprios e sistemas complexos que se desenvolveram à margem, mas que podem vir a ser adoptados pela língua-padrão ou um meio de preservação do idioma, pois contém características arcaicas.

Apesar deste texto visar valorizar os dialectos portugueses, quero ressaltar que o seu uso deve ser limitado em certas situações. Um desses casos é na escrita, pois os dialectos, regra geral, não têm ortografia própria, por isso não faz sentido um madeirense escrever, “râua” [ra´wa] em vez de “rua”. Se estamos inseridos em um lugar de ensino, a aprender a língua-padrão também não convém o uso da variedade regional. Agora, se estamos num convívio entre amigos, por exemplo, não há mal algum em exprimir-se na variedade com o qual se cresceu e faz parte da nossa vida.

É com alegria que tenho visto algumas mudanças em relação à valorização da variedade madeirense, é o caso do atelier de design, publicidade e comunicação Gonna – Creative Studio que apresentam produtos com expressões e vocabulário madeirense, como ilustra a imagem inferior:




Este texto convida aos leitores do Tuga Space a exprimirem a sua opinião em relação aos dialectos da sua região e a divulgar as suas expressões ou palavras favoritas, deixo a minha contribuição, por isso fui “demitada” escrever hoje!

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